sábado, 26 de junho de 2010

Noções dos Pais Acerca das Doutrinas Reformadas




John Gill, teólogo batista inglês, escreveu um livro: Por Deus e a Verdade, o qual é dividido em quatro partes, nas três primeiras partes explica os textos da Bíblia que dão alguma noção de livre-arbítrio, perda de salvação etc... Na quarta e última parte, procura nos Pais da igreja trechos de seus escritos onde há alguma noção das doutrinas da graça, como Perseverança Final dos Santos, por exemplo. Bem, ainda não li todo o livro, fiz uma leitura parcial e a esmo. Ainda assim, as três primeiras partes do livro que trata sobre os versículos, achei muito boa. Já a última parte, achei no mínimo interessante. John Gill foi um teólogo muito capaz, seu entendimento em hebraico foi fenomenal. Creio que a intenção de Gill foi desmantelar a ideia vendida por romanistas e outros amantes do livre-arbítrio de que os pais não tinham noções das doutrinas da graça defendidas pelos Reformadores protestantes e seus descendentes. John Gill demonstra com muitas citações do Pais que eles tinham, sim, conhecimento, embora em muitas nuvens.

Calvino, nas Institutas, nos conta sobre a dubiedade dos Pais sobre essas questões:

"parecerá a alguns que estou a agindo com grande preconceito quando declaro que todos os doutores eclesiásticos, exceto Agostinho, falaram tão dúbia ou voluvelmente sobre este assunto, que nada se pode colher com certeza da sua doutrina. Entendem isso como se eu os rejeitasse tão-somente porque me são contrários. Mas na verdade, meu único objetivo é simplesmente advertir os leitores, para o bem destes, do que acontece neste contexto, para que não esperem demais daquilo que ali encontrarem. É que estão sempre na incerteza, visto que , num dado momento, despojado o homem de toda virtude ou poder, ensinam que ele deve buscar refúgio unicamente na graça de Deus. E noutra ocasião, lhe atribuem alguma faculdade ou poder, ou ao menos parecem atribuir-lhe. Todavia, não me é difícil fazer parecer, por algumas das suas sentenças, que, qualquer ambiguidade que acaso haja em suas palavras, não obstante, eles consideravam sem nenhum valor as obras humanas, ou ao menos pouco valor lhe davam, canalizando todo o louvor para as boas obras do Espírito Santo. Pois, que outra coisa quer dizer esta sentença de Cipriano, tantas vezes citada de Agostinho: "Não temos por que nos glorificar, porque não existe nenhum bem que seja nosso"? Sem dúvida, ele anula tudo do homem, a fim de que este aprenda a buscar tudo em Deus".

E continua, Calvino:

"Algo semelhante se vê no que disse Euchère, antigo bispo de Lião: "Cristo é a Árvore da vida; quem estender a mão para ela viverá; e a árvore do conhecimento do bem e do mal é o livre-arbítrio; quem dela provar morrerá". Também o que diz Crisóstomo: "O homem não somente é pecador por natureza, mas não é senão inteiramente pecado". Se não existe bem algum em nós, se, da cabeça aos pés, o homem nada mais é que pecado, se nem sequer é lícito que ele queira o livre-arbítrio, como lhe será lícito repartir entre Deus e o homem o louvor das boas obras? Eu poderia apresentar aqui, de outros pais, muitos outros testemunhos semelhantes, mas, para que ninguém possa ironizar dizendo que só escolhi o que atende ao meu propósito, deixando de lado o que poderia prejudicar-me, abstenho-me de alongar as minhas citações. Não obstante, ouso afirmar o seguinte: Embora, por vezes, eles exaltem um tanto o livre-arbítrio, sempre tendem a buscar como objetivo afastar o homem da confiança em sua própria virtude, ensinando-lhe que todo o seu poder está unicamente em Deus".

Agora no Blogspot

Quem conhece o meu blog no Wordpress agora tem a versão no Blogspot, não sei qual dos dois sobreviverá. Estava tendo alguns problemas com o Wordpress, de vez em quando fora do ar.

Uma Dose de Sabedoria de Calvino



Voltei a ler As Institutas, na magistral tradução de Odayr Olivetti. Cheguei a um assunto que me desperta bastante curiosidade. Sempre fico curioso em toda a questão que envolve pensamento, imaginação, inteligência e coisas afins. Acredito que saber como funcionamos é algo de suma importância. As escrituras diz: tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.( Filipenses 4.8). Concluí-se que o pensamento é como raíz de algo muito maior. Muitas vezes por não sabermos a importância de termos pensamentos puros nos leva a brincar com pensamentos espúrios. O Senhor nos advertiu que daremos conta de qualquer palavra torpe que dissermos. Isto já me levou a pensar por que o Senhor daria tanta importância a algo tão pequeno, uma palavrinha banal que não seria levada a sério por quem ouve, mas por que O Senhor se importaria?

Sou jovem, solteiro, não é incomum, ao deitar vir pensamentos espúrios à minha cabeça. Muitas vezes pensei que isso fosse algo de pouca monta. Mas cada dia penso que isso pode ser a raíz de um grande problema. Uma ação pecaminosa não vem de supetão. Quando alguém chega a trair sua esposa, isto já foi mais que amadurecido. O nosso inimigo é ardiloso. Ele sabe que não ganhará a batalha se vier para cima de uma vez. Ele tenta-nos com um pensamento(As Escrituras chama de dardos inflamados do maligno), se o aceitarmos, logo estaremos enchendo a nossa imaginação, isto irá ganhando nosso consentimento e irá aos poucos tornando desejoso até ao ponto de amarmos tanto a ideia de fazermos aquilo que numa primeira oportunidade, não pensaremos duas vezes. A história de Davi com Bate-Seba é uma boa ilustração. Davi havia acabado de acordar, ou seja, estava meio sonolento, quando viu Bate-Seba pela janela, o pensamento veio, ele o acolheu, a imaginação foi a mil e sabemos o fim da história.

O meu conselho para você que preza pela alegria do Senhor, não aceite pensamentos maus que são sugeridos a sua mente, faça alguma coisa, você ainda não resistiu até ao sangue, não deixe que um pensamento carnal surripie a sua força, porque a alegria do Senhor é a nossa força. Não troque o direito de primogenitura por um prato de lentilhas. Não pense que o Senhor não afastará o Seu rosto de você, após seu namoro com o inimigo. Porquanto quem se faz amigo do mundo se faz inimigo de Deus. Não imagine que não irá comer do fruto que está a plantar. Porque Deus não se deixa escarnecer, aquilo que o homem plantar irá colher. Não pense que o arrependimento é algo que você pode fazer a qualquer momento, pois não leste de que Judas Iscariotes após trair o Mestre se encheu de remorso, mas isto não o ajudou em nada, veja também Esaú e outras histórias na Bíblia. As Escrituras nos diz que Deus é quem nos dá o arrependimento.

Abaixo uma dose de sabedoria de Calvino que somando a outras me levou a pensar:

"Confesso que Platão parece ter razão quando diz que há no homem cinco sentidos. A estes ele chama instrumentos, pelos quais o senso comum, que é como um universal respeitável, concebe todas as coisas externas, que se apresentam à visão, à audição, ao paladar, ao olfato e ao tato. Depois, a imaginação discerne o que o senso comum concebeu e apreendeu; a seguir, a razão faz o seu trabalho julgando o todo. Finalmente, acima da razão está a inteligência, que contempla com atenção séria e demorada todas as coisas sobre as quais a razão discorre e discute. Assim é que existem três virtudes na alma relacionadas com o conhecimento e o entendimento e que, por isso, são chamadas faculdades cognitivas, quais sejam: a razão, a inteligência e a imaginação. A essas correspondem outras três, que dizem respeito ao apetite, ao desejo. São elas a vontade, cuja função é desejar o que a inteligência e a razão lhe propõem; a cólera ou ira, que segue o que lhe apresentam a razão e a imaginação; e a concupiscência, que toma o que lhe é oposto pela imaginação.

Embora todas estas coisas sejam verdadeiras, ou ao menos pareçam tais , ainda assim é preciso cuidado - que não no distraiamos, porque há o perigo de que elas pouco nos ajudem e de que nos atormentem muito por sua obscuridade"*.

*As Institutas - vol. 1 - pág. 92 - Editora Editora Cultura Cristã - Tradução de Odayr Olivetti da edição original francesa de 1541.